segunda-feira, 16 de julho de 2012

Disse que não ia te deixar pra trás


                Depois de algum tempo sem ver meus avós, retornei à casa deles. Entrei, dei aquele falso abraço de saudades inexistentes e logo caminhei para o quarto. Olhei para a cama de casal na qual eu havia dormido nas férias de 2011, sozinho, apenas com o telefone ao lado da cabeça enquanto conversava com ela. Senti que uma lágrima queria escorrer dos meus olhos e aquele aperto horrível me fazia engasgar sem motivo, mas tive que ser mais forte que meus    – até então esquecidos – sentimentos. Tranquei a porta do quarto e tirei minha roupa, ficando apenas com a roupa de baixo, abri a janela que dava para a rua, coloquei a tela de proteção de fechei a cortina. 8°C e eu seminu, deitado na cama, pensando no nada. Não demorou muito e eu acabei apagando, afinal eu estava cansado por causa da viagem, que fiz durante a madrugada e terminou somente uma hora depois do nascer do sol.
                Quando fui acordar, já eram 20 horas, e o jantar estava pronto. Meus tios por parte de pai estavam na casa e fizeram alguma coisa que comi sem olhar, sem sentir o cheiro nem o gosto. Nada mais tinha gosto, desde que eles – os sentimentos – haviam voltado. Não lembraram do meu aniversário, mas nem me importei. Peguei uma garrafa de vinho tinto (muito velho, por sinal), e bebi quase sozinho. Mais outras duas garrafas de branco foram em seguida. Sob o efeito do álcool e com os sentimentos rondando, não consegui pensar em nada mais além de ir dormir de novo, mas só de chegar perto daquela cama já me dava calafrios. Dormi no chão da sala.
                Na manhã do sábado, quando acordei, a casa estava vazia, haviam algumas cobertas pesadas em cima de mim e as janelas estavam abertas. Coloquei uma roupa e fui para a rua, olhar a névoa da manhã que pairava com suavidade as folhas secas que caíam e estalavam ao bater no chão. Peguei minha carteira, deixei o celular desligado em cima da cama e fui andar pela cidade. Não demorou muito e eu já estava no centro, praticamente sozinho, já que o comércio de sábado não abre até as 14 horas naquela cidade pequena. Fui até a igreja e sentei em um dos vários bancos que estavam um pouco molhados devido ao sereno frio da madrugada. A névoa já não estava me acompanhando, ao invés disso o sol subia e me aquecia da maneira que eu não queria, o que me fez me esconder nas sombras enquanto caminhava de volta para a casa dos avós. Não sei porque, mas demorei mais para voltar do que para ir até o centro, pois quando cheguei já eram 11 horas, e já estavam preparando o almoço. Fui recebido com um “por onde esteve?”. Fingi que não ouvi e fui para o quarto, ligar o celular. Nenhuma nova mensagem, nenhuma ligação não atendida, nada. Apertei sem querer o botão direcional para baixo e entrei na lista de contatos. Meus olhos sonolentos pararam no primeiro nome que estava escrito e fiquei parado de pé durante quase um minuto, enquanto memórias indesejáveis invadiam novamente minha mente. Joguei o celular no chão, fazendo a  bateria sair.
                Almocei, conversei pouco com os parentes, caminhei por onde não conhecia até me perder e achar o caminho de volta. Por onde quer que eu fosse, era notável que o movimento era quase inexistente, exceto quando eu passava na frente de uma das casas em que o cheiro da carne sobre a brasa invadia meus pulmões, e as risadas estridentes de amigos e parentes desconhecidos de pessoas que não conheço insistiam em perfurar meus tímpanos. Não demorou muito e o tédio misturado ao sono batiam nas pálpebras e afetavam as pernas, que caminhavam lentamente de volta à casa dos avós. Arrumei minha mochila, entrei no carro, liguei a música e fiz o caminho de volta para casa, ouvindo as músicas que ela mais gosta.
                Nada de bom aconteceu comigo. Não conheci ninguém que pudesse me fazer sentir bem de novo. Aliás, não conheci ninguém novo. Espero que eu seja a única esperança para ela, porque ela é a única esperança para mim.