quarta-feira, 28 de março de 2012

Horas desperdiçadas em mais um outono solitário.


                As árvores, no geral, acima de nós... Observando a passagem de nossas vidas como se fosse uma pequena fração de segundo para esses gigantes quase imortais. A calma que têm enquanto o vento violento passa por entre seus galhos, levando suas folhas mortas, continuando indiferentes e imóveis. Sua presença hoje em dia quase não é mais notada, exceto por aqueles que têm suas mentes nas nuvens, assim como sua beleza.
                Tenho preferência pelo outono. Curiosamente ele é mais frio que o inverno, na minha cidade. As folhas das árvores espalhadas pelo chão, com aquela coloração que varia entre marrom, laranja e amarelo, combinam perfeitamente com o cinza das roupas das pessoas que passam nas ruas, e do vazio que sinto dentro de mim. É quase como se eu pudesse pegar todas as folhas que encontrasse e preencher-me com elas. Caminho pelas ruas sozinho enquanto ouço música, com um pequeno sorriso no rosto, quase imperceptível. O frio envolvendo meu corpo cada vez que dou um passo, que esgota pouco a pouco minha energia.
                Conheço um pequeno café, longe de casa, para o qual gosto de ir a pé, sentar em uma das pequenas mesas que ficam na calçada e tomar um cappuccino, sempre sozinho. Passeio observando as pessoas, assim como as árvores fazem, só que de um ângulo diferente, do chão. Às vezes observo por tempo demais, e volto para casa com o céu já escuro, e com a respiração já dificultada pelo frio, queimando por dentro de uma maneira deliciosamente dolorosa.
Essas horas gastas com inutilidades me fazem sentir bem, e em poucos dias essa rotina vai recomeçar, ainda bem. O frio me conforta de uma maneira estranha, mas boa. Solidão não é um sentimento, é uma realidade.